quarta-feira, 25 de julho de 2012

O medo.

Ela tinha medo, tanto medo que tinha medo por ter medo. Andava olhando para os lados e depois olhava para o chão, pois tinha medo que o que estava ao seu lado descobrisse sua presença. Dizia a si mesma que deixaria esses medos de lado, sairia de seu quarto bem iluminado e andaria na escuridão da noite, todos os dias ela si dizia isso.
Estava sempre tão preocupada em ser surpreendida e ter medo que passava pela vida como um nada, apenas perdida e mesmo assim não queria ser encontrada. Mas sem querer, já era noite e ela estava longe de seu casulo protetor, o que faria? Suas pernas andavam mais rápido, o coração palpitava dentro do peito, o gosto de sal e ferro preenchia sua boca. Agora ela sabia o que era realmente sentir medo.
- Bárbara! Fique calma filha. – Fingiu não escutar, afinal de contas quantas coisas mirabolantes uma mente em pânico pode criar?! Continuou andando, mas quando uma mulher parou em sua frente ela não teve como escapar.
- Não vou te machucar filha.
- Espero que não machuque.
- Você foge de mim há muito tempo. – Os cabelos vermelhos lutavam contra o vento, o corpo feminino e forte fazia Bárbara se lembrar das amazonas das histórias de sua avó. – Sou Dakini e como eu, chegou sua vez de correr com os lobos e se libertar.
- Sinto muito, mas você deve estar me confundindo com alguém, como pode ver, não estou presa.
- Como não? Faz o que as pessoas acham ser o correto, é manipulada por essa sociedade que cala as mulheres corajosas, mantem impune os corruptos e sacia com medo a grande maldição que tem assolado a humanidade. – Dakini sabia que Bárbara era apenas uma garotinha, mas suas seguidoras não podiam ser fracas.
- Talvez... Talvez você esteja certa.
- Você que eu estou minha filha. – Dakini se aproximou de sua criança medrosa e deu-lhe um beijo carinhoso no topo da cabeça. – Abençoada seja.
Uma brisa varreu Bárbara, mas não era apenas o vento, era sua alma de mulher voltando. Aquela alma que fica esquecida em meio aos problemas do dia a dia, aquela alma que faz uma mulher mais forte. O medo já não era tão importante, na verdade o medo era algo preciso, pois com ele ela ia mais longe, sempre quebrando barreiras.
Bárbara sabia que Dakini sempre estaria ali quando precisasse, mas o mais importante já havia sido feito; agora Bárbara não era apenas uma garota boba e medrosa, era uma mulher que corria com os lobos.  As sombras tocaram-lhe o rosto, com seus dedos de veludo. E a menina veio a gostar das sombras. E o medo que existia passou. 

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